terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Parte 1


A SAGA DE WIELAND

1-Vadoso

Apesar de ser o filho mais velho de um rei, o gigante Vadoso não se tomou rei. Deram-lhe este nome, porque cresceu tanto que nos trechos dos rios onde os outros tinham de atravessar a nado ele apenas atravessava a vau, ou seja, vadeava. Assim todos o chamavam de Vadoso, e por fim já ninguém sabia qual o seu verdadeiro nome. Era uma pessoa tão contemplativa e sossegada que seu pai, o rei Viking, decidiu que quem herdaria a coroa não seria Vadoso, apesar de ser o mais velho, mas sim um de seus irmãos. Vadoso não se importou, pois fazia pouco caso das honras e fadigas da dignidade real. Preferiu casar-se e ter filhos, viver quieto e tranqüilo como proprietário de fazendas. Vadoso teve três filhos, que receberam os nomes de Wieland (Völundr), Eigel e Helferich. 
Cada um desses filhos tinha um dom especial. Helferich conhecia profundamente as ervas e as forças da natureza e tornou-se um importante médico. Eigel tinha um olho tão penetrante quanto o do falcão e atirava com o arco e a flecha como nenhum outro em seu país, de forma que ninguém conseguia competir com ele como caçador. Wieland dedicou-se ao martelo e à bigorna. Era um ferreiro nato: desde pequeno já era capaz de fazer armas e uma porção de outras peças, e a coisa de que mais gostava era ficar ao lado do fogo da forja. Vadoso mandou os três filhos para serem aprendizes junto aos melhores mestres, de acordo com os dons de cada um. Wieland foi ser aprendiz de dois famosos anões, Alberich (Regin) e Goldmar, os mais capazes e habilidosos ferreiros de todo o mundo e que moravam numa caverna montanhosa, através da qual tinha acesso aos metais do interior da terra, ao ouro e ao ferro, acumulando tesouros que ninguém jamais havia visto. Mas eram anões cobiçosos, que só queriam aumentar os seus tesouros, sem usá-los para algo de bom. 
Wieland era o aprendiz mais habilidoso que os anões jamais tiveram. Em pouco tempo nada mais tinham a ensinar-lhe, e depois de transcorridos os seus anos de aprendizado ele sabia tudo tão bem quanto os próprios anões. Por isso eles não queriam que ele fosse embora, pois lhes prestava excelentes serviços. 
Quando Vadoso veio buscar o seu filho, Alberich lhe disse: 
- Está tudo bem, mas ele ainda precisa aprender mais alguma coisa. Se você deixar seu filho mais um ano conosco, ele será um mestre perfeito e será tão valioso para nós que devolveremos o dinheiro que você nos deu para ele aprender o ofício. Que acha disso? 
O pai de Wieland não gostou muito da idéia e resistiu em concordar, mas o rapaz gostava tanto do trabalho na forjaria dos anões que não queria ir embora. Além disso. estava obcecado com a idéia de aprender cada vez mais. Assim insistiu com o pai para ficar mais um ano. até que Vadoso concordou. Então um dos anões, Goldmar, disse: 
- Não se esqueça de um velho costume do nosso ofício, que provavelmente você conhece.
- Não, não sei de nada - disse Vadoso. - Que costume é esse?
- Se você não buscar o seu filho no dia combinado, ou seja, exatamente daqui há um ano, e nem um dia a mais, ele terá de ficar conosco a vida inteira e trabalhar para nós.
- Eis um costume muito estranho - disse Vadoso, franzindo a testa.  Nunca ouvi falar disso.
- É uma lei milenar entre os ferreiros  explicou Alberich.  É um ofício austero e sagrado e possui leis rígidas e sagradas. 
Vadoso acabou aceitando essa explicação, mas não a levou muito a sério. Só quando voltava para casa é que lhe pareceu que aqueles dois anões tinham em vista alguma maldade. Enquanto isso, Wieland continuou trabalhando muito satisfeito na bigorna. Aprendeu ainda a ourivesaria e teve a oportunidade de conhecer o lugar onde os anões guardavam os seus tesouros. Ali viu um anel que fora forjado nos tempos antigos por Mime, o experiente ferreiro com quem Siegfried (Sigurðr) de Xanten, o matador de dragões, aprendera a forjar sua própria espada, a espada Balmung (Gram). Esse anel tinha o poder de escravizar pelo amor aquele a quem o portador do anel escolhesse. 
Depois de Wieland ter passado mais um ano como aprendiz dos anões, Vadoso já se encontrava diante da caverna havia três dias, para não chegar tarde demais, mas não conseguia encontrar a entrada. Os anões haviam-na fechado com pedra. Durante todo o dia Vadoso procurou-a e, apesar de estar ouvindo das profundezas da terra o retinir e o bater do martelo, não conseguia encontrar a entrada. Então deitou-se ao lado de uma rocha para passar a noite ali e não percebeu que estava bem perto da entrada. Os anões haviam tramado um plano para matar Vadoso e ficar com o aprendiz para o resto da vida. Desprenderam, pois, uma rocha logo acima do lugar onde Vadoso dormia, e a rocha esmagou o velho, matando-o. 
No dia seguinte Wieland acordou bem cedo para procurar seu pai e teve de retirar as pedras para sair. Viu então o que acontecera e logo compreendeu que os anões eram os responsáveis por aquele ato cruel. Depois, quando percebeu como os dois trocavam olhares e mal conseguiam conter-se de alegria pelo crime que haviam cometido, tomou uma decisão inabalável. Não conseguindo mais controlar o ódio, empunhou a espada que estava forjando, cortou a cabeça dos dois anões e deixou-os ali banhados em sangue. Wieland entrou na caverna e deparou com o cavalo Cíntilo, um animal branco como a neve e fantasticamente veloz e que ele nunca havia visto antes porque os anões mantinham-no escondido para, em caso de perigo, poderem fugir. Em seguida encheu um saco com pedras preciosas, pegou o anel mágico que Mime havia forjado, colocou tudo sobre o cavalo e foi embora para casa. 

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