terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Parte 4

4 - Prisão


Entrementes, os guerreiros de Nidung venceram a batalha, pois o exército inimigo não se mostrara tão forte como os mensageiros haviam informado e em pouco tempo foram obrigados a bater em retirada. Quando Nidung voltou, mandou seus homens percorrerem o país inteiro atrás de Wieland, pois no fundo temia o ferreiro.  
Um dia Wieland chegou defronte de sua antiga forjaria e ali, tomado por grande tristeza e cansaço, entrou e deitou-se na sua antiga cama, esquecendo-se de apagar a tocha. Seu desânimo era tal que já nem se lembrava de tomar as menores precauções.  
Os esbirros do rei encontraram-no, e mais de dez homens caíram sobre ele, amarraram-no com correntes e levaram-no à presença do rei. Desesperado, Wieland bradou-lhe:  
- Mate-me, rei infame! Você nem merece ser chamado de rei! Peço-lhe que me mate, não quero mais viver.
- Nada disso! - sibilou o malvado rei. - Você continuará trabalhando para mim, como ferreiro é muito útil.  
Nunca mais fugirá daqui. - Havia imaginado uma vingança cruel pelos desaforos que Wieland lhe lançara em rosto.  
O prisioneiro foi levado para uma ilha solitária perto da costa e ali cortaram-lhe os tendões dos pés para que não pudesse mais fugir. Assim mutilado, o ferreiro recebeu uma velha choupana como oficina e todas as ferramentas para realizar os trabalhos que o rei lhe ordenava. Mesmo Batilde ficou estarrecida com a crueldade de seu pai, e quando pensava no destino do ferreiro doía-lhe o coração, pois sabia que ele sofria daquela maneira por sua causa.  
O rei tentou trazer para suas cavalariças o maravilhoso cavalo Cíntilo, mas não o conseguiu. O animal, que Wieland amarrara do lado de fora quando chegara à sua antiga forjaria havia desaparecido. Soltara-se, fugira como um vendaval e nunca mais foi encontrado, apesar de buscas infindáveis. Alguns diziam ter ouvido seus altos relinchos como o som de mais de mil trombetas enquanto ele desaparecia com seus cascos trovejantes, outros diziam que ele se jogara na arrebentação junto à praia e imediatamente desaparecera no meio da ondas espumantes.  
Wieland agora queria continuar vivo para vingar-se do cruel rei, e assim parecia haver aceitado sua triste sina, executando com muito escrúpulo os trabalhos que lhe eram solicitados. Primeiro construiu um par de muletas, pois quem sabe trabalhar com ferro também conhece a madeira, e desse modo conseguia locomover-se com bastante dificuldade. As dores atormentavam-no muito, mas suportou-as com galhardia.  
Queria viver para consumar sua vingança. Lentamente, as idéias começaram a brotar-lhe na cabeça e assim seu plano foi ganhando forma.  
Uma vez, quando ainda morava com seus irmãos, conseguira fazer uns arames finíssimo, de tanto malhá-lo pacientemente num ferro. Eram tão finos quanto os fios de uma teia de aranha, e com eles Wieland construíra um ninho de passarinho que de tão perfeito iludiu um par de pássaros, que ali botaram seus ovos. Então Eigel, o arqueiro infalível, empunhou um arco e uma flecha e acertou de longe os três ovos que estavam no ninho. Com pena dos pássaros, Helferich, o médico, pegara os três ovos e juntara-os com uma pomada curativa de forma tão perfeita que já não se via um único arranhão nas cascas, e os pássaros continuaram chocando os ovos até os filhotes nascerem.  
Wieland lembrou-se desse fato e então lhe veio uma idéia. Que aconteceria se forjasse uma infinidade de penas de finíssimo arame e depois construísse um par de asas? Pôs-se a trabalhar e em pouco tempo forjou a primeira pena. Na sua choupana não faltavam metais: restos enferrujados estavam jogados por todos os cantos, e ele transformou tudo em finíssimos fios de arame, martelando e limando todos os dias. Além disso executava os pedidos do rei para que ninguém suspeitasse de nada.  
Assim trabalhou anos seguidos, pois uma obra como essa, que homem nenhum até então tivera coragem de realizar, precisava de tempo para ser feita. Naturalmente ele havia ouvido falar do lendário homem da antiga Grécia que construíra asas e voara, mas esse homem havia usado penas de pássaros colando-as com cera, e quando subiu às alturas e se aproximou do sol a cera se derreteu e ele despencou lamentavelmente, espatifando-se no chão ou morrendo afogado no mar. Isso não aconteceria com Wieland (apesar dessa mensão ao mito de Dédalo da mitologia greco-romana, nesta versão escrita do poema, a lenda de Wieland provavelmente possuei origem comum com a de Dédalo, remotando aos tempos dos indo-europeus). 
Quando terminou as plumagens, escondeu-as debaixo de um monte de ferro-velho e assim chegou o dia de sua vingança. Vieram visitá-lo dois rapazinhos, filhos do rei. Queriam ver o trabalho de Wieland. Não lhe disseram quem eram, mas Wieland logo o descobriu. Eram tão curiosos quanto cobiçosos: queriam ver tudo e também levar muitas coisas, e Wieland, o coxo, não podia impedir que levassem o que quisessem. Os meninos também sabiam que na sua arca havia preciosidades, as quais o ferreiro deveria retrabalhar, mas não as mostrou aos meninos.

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