terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Parte 5

5 - Vingança



Então eles exigiram que Wieland fizesse pontas para suas flechas. 
- Só posso fazer o que o rei me ordena  disse ele -, e também não posso mostrar-lhes nada, senão serei cruelmente castigado. 
Eles responderam que o pai não precisava saber de nada, e então Wieland certificou-se de que eram filhos do rei. 
- Se vocês são os príncipes  disse ele -, não lhes posso recusar um pedido, mas só o farei em segredo. Por isso voltem outro dia sem que ninguém saiba de nada, senão terei de pagar amargamente e aí não haverá nem jóias nem pontas de flechas. 
Depois acrescentou: 
- Se vocês vierem e não contarem nada a ninguém, vou mostrar-lhes algo que ninguém nunca viu. E assim despertou a curiosidade dos meninos.  
Eles prometeram vir e já na manhã seguinte, ao alvorecer, lá estavam de volta, sem que ninguém soubesse de nada. Wieland abriu a pesada tampa da grande arca de onde havia retirado todo o conteúdo, e quando eles se abaixaram para ver o interior, Wieland disse-lhes:
- Vocês têm de olhar mais de perto. 
E foi o que fizeram. 
Então o ferreiro deixou cair a pesada tampa sobre suas cabeças. esmagando-as. 
No palácio real ouviram-se lamentos e prantos porque os dois meninos haviam desaparecido. Foram procurados nas florestas, na praia e nos rochedos, mas tudo foi inútil. Ninguém imaginava que pudessem estar mortos na ilha. dentro da arca do ferreiro. 
Passaram-se meses. Wieland pegou suas plumagens, uniu e amarrou as penas com muita arte. Enquanto isso os corpos dos dois meninos foram apodrecendo, até restarem apenas os ossos. Tenebrosos pensamentos de vingança passavam pela cabeça do ferreiro. Certo dia o rei Nidung recebeu uma delegação de convidados de um país vizinho que assinariam um tratado de paz. Ordenou a Wieland que fabricasse umas taças do material e do jeito que ele quisesse. mas deviam ser tão originais que nunca ninguém tivesse visto iguais. Queria vangloriar-se com a habilidade de seu ferreiro. Wieland transformou as ossadas dos meninos em taças e ornou-as artisticamente com ouro e âmbar. Eram realmente taças como iguais ninguém jamais vira. Wieland enviou-as ao rei e ele bebeu nelas juntamente com seus convidados, sem desconfiar de nada. 
Pouco tempo depois Batilde deixou cair o anel no chão e o anel ficou trincado. Foi como se abrisse uma fenda em seu coração. Uma mágoa profunda e inexplicável apoderou-se dela. 
Mandou, pois, uma criada com o anel até a ilha, onde Wieland deveria consertá-lo. Ninguém mais era capaz disso. Será que ela havia esquecido que o anel pertencia a Wieland e que lhe fora roubado? A criada voltou com o recado de que Batilde deveria ir buscá-lo pessoalmente, porque Wieland precisava experimentá-lo no seu dedo. Com o coração palpitante, o ferreiro começou o seu trabalho. O anel queimava-lhe os dedos. Batilde veio. Estava trêmula de inquietação, pois o anel, que lhe dava poder, não estava no seu dedo. Olhou para o ferreiro, que havia envelhecido e estava à sua frente de muletas. Suas terríveis feridas estavam curadas, mas mesmo assim ele se locomovia com muita dificuldade. Olhou de alto a baixo a mulher a quem ainda continuava desejando. 
- Então, dê-me o anel - disse Batilde.
- Aqui está - respondeu Wieland.  Olhe bem para ele. Você ousou conservá-lo em seu poder por muito tempo, mas ele é meu. De agora em diante sou eu quem vai usá-lo, e você vai sentir o que isso significa. 
Ela olhou-o pálida e transtornada. Sentiu aumentarem as dores em seu coração. Wieland colocou o anel em seu dedo e a dor tornou-se mais aguda. Ela não sabia o que fazer nem o que falar. Lágrimas encheram-lhe os olhos e seu orgulho se abateu. Ela estendeu a mão a Wieland e pediu-lhe: 
- Devolva-me o anel.
- Não, você tem que sentir o seu poder. O anel é meu.
Vá e sinta o seu poder. 
Ela correu para fora da choupana até a margem onde estava o bote com o servo que a havia trazido, e este pensou: "Por que será que ela está chorando, essa mulher tão orgulhosa?". 
Exultante, Wieland voltou a trabalhar na sua estranha obra. Logo chegou o dia em que experimentou suas asas: primeiro subiu aos ares timidamente, mas depois ganhou coragem e voou à vontade, seguro de sua vitória. Agora estava liberto das algemas que seus pés coxos significavam para ele. Sentia-se mais livre e mais veloz do que os melhores corredores ou do que um garboso corcel. Voltou à oficina, reuniu as melhores pedras, colocou-as em saquinhos e amarrou-as em torno do corpo. 
Faltava apenas completar sua vingança. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário